Introdução:

O Cancro da Próstata (CaP) é a segunda neoplasia mais comum no homem, com cerca de 1.1 milhões de casos estimados em 2012 em todo o mundo [1]. A história natural da progressão do CaP, desde a doença localizada confinada ao órgão, à progressão bioquímica e posteriormente à manifestação clínica de doença metastática, é prolongada com elevada variabilidade interindividual [2]. Estimativas mostram que aproximadamente 15% a 30% dos doentes apresentam doença metastática hormonossensível [3].

As terapêuticas de privação androgénica apresentam um papel fulcral na abordagem do cancro da próstata metastizado hormonossensível (mCaPHS). O hipogonadismo induzido por este tipo de tratamento está associado a múltiplos efeitos adversos, incluindo fadiga, diminuição da libido, depressão, redução da densidade mineral óssea e consequente aumento do risco de fraturas e alterações da composição corporal, com impacto negativo na qualidade de vida [4, 5,6]. Além disso, há evidência crescente do desenvolvimento de complicações metabólicas esultando no aumento do risco cardiovascular [7, 8, 9]. As intervenções no estilo de vida podem desempenhar um papel importante na redução dos efeitos adversos das terapêuticas de privação androgénica e, por conseguinte, na diminuição da morbilidade. O exercício físico demonstrou ser eficaz na redução dos sintomas, na melhoria da saúde mental, na redução da perda de massa muscular e óssea em doentes com cancro, apresentando, com isto, potencial na redução dos fatores de risco cardiovasculares [10]. No entanto, os baixos níveis de atividade física existentes neste grupo de doentes permanecem um desafio. Estudos prévios centraram-se sobre o efeito do treino aeróbio, de força ou uma combinação de ambos [11,12,13].

O futebol de recreação representa uma alternativa aos programas de exercício convencionais na promoção da saúde e mitigação do impacto das doenças não transmissíveis (como é o casodo CaP) que, frequentemente, se revelam ineficazes em atrair a maioria da população e assegurar adesão de longo-termo ao exercício. A sua popularidade e exigências fisiológicas efuncionais que incluem elevado stress cardiovascular, metabólico e músculo-esquelético, têm sustentado a implementação de programas de exercício físico centrados no futebol de recreação em homens com CaP sob terapêuticas de privação androgénica. Estes mostraram- se eficazes em melhorar a massa magra, massa óssea e força muscular desta população [14, 15]. Por outro lado, nestes doentes, a função sexual é influenciada por vários fatores inerentes ao tratamento e o exercício físico pode possivelmente atenuar os seus efeitos adversos, tanto pela alteração da composição corporal, como pelo impacto nos níveis de depressão e fadiga [16]. A intervenção em grupo pode fornecer um ambiente profícuo, de empatia, motivação e suporte mútuos [17]. No que concerne à associação entre terapêuticas de privação androgénica e risco cardiovascular, é premente o desenvolvimento de intervenções com influência neste campo.

Objetivos:

  1. Proporcionar um programa de exercício físico supervisionado (futebol de recreação) com vista a minorar os efeitos adversos da hormonoterapia
  2. Investigar o impacto deste programa de treino na qualidade de vida, na saúde mental, bem como no perfil metabólico e risco de doença cardiovascular em homens com mCaPHS.

Metodologia:

Após avaliação de critérios de inclusão por equipa  de urologia, será realizada um avaliação por cardiologia.

O programa de treino inclui 2 sessões de treino semanais de aproximadamente 60 minutos durante 9 meses e terá lugar em instalações do Futebol Clube do Porto. Cada sessão de treino compreenderá 20 minutos de aquecimento, 11 minutos de treino e 3×10 minutos de jogo de futebol de recreação, com intervalos de 2 minutos, num campo sintético de 40×20 metros. As sessões de treino serão monitorizadas por marcadores internos (frequência cardíaca e escalas de perceção subjetiva de esforço) e externos (GPS). A presença e a ocorrência de eventos adversos serão registadas. Estas serão dadas por um treinador graduado em Ciências do Desporto e Educação Física e supervisionadas por uma equipa médica.

Se estiver interessado em participar por favor contactar-nos pelo endereço: pcagoal.urologia@gmail.com

Referências bibliográficas:

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[14] Uth, Hornstrup, Schmidt, Christensen, Frandsen, Christensen, Helge, Brasso, Rørth, Midtgaard, Krustrup. Football training improves lean body mass in men with prostate cancer undergoing androgen deprivation therapy. Scand J Med Sci Sports 2014; 24(Suppl.1):105-12. doi:10.1111/sms.12260

[15] Uth, Hornstrup, Christensen, Christensen, Jørgensen, Schmidt, Brasso, Jakobsen, Sundstrup, Andersen, Rørth, Midtgaard, Krustrup, Helge. Efficacy of recreational football on bone health, body composition, and physical functioning in men with prostate cancer undergoing androgen deprivation therapy: 32-week follow-up of the FC prostate randomised controlled trial. Osteoporosis Int 2016;27(4):1507-18.

[16] Cormie P, Newton RU, Taffe DR, Spry N, Galvão DA. Exercise therapy for sexual dysfunction after prostate cancer. Nat Rev Urol 2013 Dec;10(12):731-6. doi: 10.1038/nrurol.2013.206

[17] Hamilton K, Chambers SK, Legg M, Oliffe JL, Cormie P. Sexuality and exercise in men undergoing androgen deprivation therapy for prostate cancer. Support Care Cancer 2015 Jan;23(1):133-42. doi: 10.1007/s00520-014-2327-8. Epub 2014 Jul 10.

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