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Fundação e Breve História

 

Em 9 de Novembro de 2009, em Goiânia, Brasil, no decorrer do XXXII Congresso Brasileiro de Urologia, foi fundada a (Pró) Associação Lusófona de Urologia. A sua fundação foi anunciada em sessão plenária no Congresso, pelo presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) José Carlos de Almeida, e pelo presidente nomeado da Associação Lusófona de Urologia (ALU) Manuel Mendes Silva, tendo sido assinado um documento com a declaração de intenções e objectivos, assinado por representantes, presentes, do Brasil, de Portugal e de Angola, com a subscrição de Moçambique e Cabo Verde, que não puderam estar presentes. Foi constituída uma Directoria tendo como presidente Manuel Mendes Silva (Portugal), vice-presidente Mário Ronalsa Brandão (filho) (Brasil), tesoureiro Sidney Glina (Brasil), secretário Pedro Tiago Nunes (Portugal), vogais Sidónio Monteiro (Cabo Verde), Manuel Videira (Angola), Igor Vaz (Moçambique). Paulo Palma (Brasil) foi designado presidente da Assembleia Geral e de Representantes.

A Associação terá sede em Lisboa, Portugal, e pretende aproximar, em termos técnico-científicos e sócio-profissionais, toda a comunidade urológica de língua portuguesa, e desenvolver a cooperação, nesta área, dos países e regiões lusófonas, fomentando acções institucionais que visem a promoção, o desenvolvimento, o progresso, a investigação, o ensino, e a divulgação da Urologia e dos que a praticam, num espírito de diálogo e colaboração. Pretende também incentivar, divulgar e representar a urologia lusófona em âmbito internacional, dialogando e cooperando com outras associações urológicas não lusófonas, nacionais e internacionais, e com outras instituições lusófonas, médicas ou não, que tenham como objectivo uma aproximação dos países de língua portuguesa. 

Cerca de 300 milhões de pessoas, distribuídas por todo o mundo, falam português, e há cerca de 4.500 urologistas (dos quais mais de 4.000 brasileiros e 350 portugueses) nesse grande espaço pluricontinental que é a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), que integra Portugal, Brasil, PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe), Timor e comunidades portuguesas na Ásia, Goa e Macau.

Num breve historial das relações lusófonas na urologia, que servirá para as fixar e para as desenvolver, é de lembrar que, em 1923, foi fundada a Associação Portuguesa de Urologia, APU, sendo seu primeiro presidente Artur Ravara. Em 1925 realizou-se o 1º Congresso Hispano-Português de Urologia, o primeiro Congresso da Associação Portuguesa de Urologia. Em 1926 é fundada a Sociedade Brasileira de Urologia, SBU, sendo o seu primeiro presidente Estelita Lins. Em 1935 é realizado o 1º Congresso Brasileiro de Urologia e o 1º Congresso Americano de Urologia, e é fundada a Confederación Americana de Urologia, CAU, sendo seu primeiro presidente Álvaro Cumplido Sant´Ana. Nele participou o urologista português Conceição e Silva, representando a APU, sob a presidência de Henrique Bastos. Em 1936, eram sócios brasileiros correspondentes da APU Ugo Pinheiro Guimarães e Álvaro Cumplido Sant’Ana.

Em 1941, Reynaldo dos Santos, Presidente da APU, é feito Sócio Honorário da SBU e grande oficial da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Sob a égide de Reynaldo dos Santos e Álvaro Sant’Ana, Presidente da SBU, as relações da APU com a SBU foram reforçadas, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial, nos anos de 1947 e seguintes, até finais dos anos 50.

Em 1971 e 1973, Pinto de Carvalho, Secretário e depois Presidente da APU, foi relator nos Congressos SBU do Rio de Janeiro e São Paulo, e em 1976 editou no Brasil o seu livro “Noções de Urologia”, edição portuguesa de 1974. Em 1978, Pinto de Carvalho, Presidente da APU, convida Rocha Brito, famoso urologista brasileiro, a participar no Congresso Português de Urologia.

No início dos anos 80 as relações Portugal e Brasil sofreram um declínio, apenas interrompido pelas participações de Edson Pontes em várias reuniões do Grupo Português de Oncologia Génito-Urinário, coordenado por Calais da Silva.

Desde finais dos anos 80 vêm a Portugal, aos Congressos e Simpósios da APU (em 1990 realizou-se mesmo um Simpósio Luso-Hispano-Brasileiro), sucessivos presidentes da SBU, Ronaldo Damião, Salvador Vilar, Eric Wrocklawsky, Walter Koff, Sidney Glina, José Carlos Almeida, e urologistas brasileiros de renome como Sami Arap, Edson Pontes, Miguel Srougi, Rodrigues Neto, Geraldo Campo Freire, Fernando Vaz, Beatriz Cabral, Francisco Sampaio, Marco Arap, Francisco Dénes, Paulo Palma, Mirandolino Mariano, Anuar Mitre, Mário Ronalsa. Para além destas participações nos eventos da APU, estes e outros urologistas brasileiros têm participado noutras reuniões urológicas portuguesas. Nos anos 80 Sérgio Aguinaga é membro da Ordem dos Médicos e da Academia Portuguesa. Em 2000, por iniciativa de Adriano Pimenta, Sami Arap é feito Sócio Honorário da APU e em 2003, comemorando-se os 80 anos da APU, Mendes Silva entrega a Eric Wroclawsky, Presidente da SBU, a medalha de prata da APU. Em 2005, Mendes Silva oferece a Walter Koff , Presidente da SBU, o cistoscópio de prata da APU.

Em relação à participação de portugueses nos Congressos Brasileiros a partir dos anos 90, foram convidados para os Congressos e Simpósios da SBU os presidentes da APU Joshua Ruah, Adriano Pimenta, Mendes Silva, Francisco Rolo. Participaram também em eventos da SBU Calais da Silva, Rodrigo de Carvalho, Francisco Pina, Arnaldo de Figueiredo, Linhares Furtado, Reis Santos, Mendes Leal, Francisco Cruz, Paulo Vale, Rui Santos, Vaz Santos, Estevão de Lima, Lafuente de Carvalho, Pedro Nunes, Monteiro Pereira. Desde 1999 foram organizadas Reuniões Conjuntas ou Simpósios SBU-APU nos Congressos SBU, e em 2000, o Simpósio Luso-Brasileiro de Urologia, do Achamento. Nesse Simpósio é oferecida a Adriano Pimenta, Presidente da APU, por Salvador Vilar, Presidente da SBU, a medalha de ouro do Real Hospital Português do Recife. Pela primeira vez é montado um stand da APU em eventos brasileiros para melhor difusão da urologia portuguesa no Brasil, com a participação de Rogéria Sinigali, Secretária da APU. No Congresso SBU de 2005, em Brasília, Manuel Mendes Silva é feito Sócio Honorário da SBU.

Nas décadas de 1990 e 2000 outras Reuniões, Jornadas, Simpósios e Congressos Luso-Brasileiros foram realizados, no âmbito da Medicina Militar e também outras reuniões multidisciplinares com a participação da Urologia no âmbito da Associação Portuguesa de Cooperação Lusófona e Iberoamericana. Também, graças ao esforço das últimas Direcções da APU e da Indústria Farmacêutica Portuguesa, muitos urologistas portugueses se inscreveram e enviaram comunicações livres para os últimos Congressos da SBU e participaram em cursos ou estágios específicos em serviços brasileiros de referência. Aos Congressos Brasileiros têm ido também urologistas dos PALOP.

Urologistas brasileiros publicaram na Acta Urológica Portuguesa e no BIAPU, e urologistas portugueses publicaram no Jornal Brasileiro de Urologia, havendo publicações brasileiras e da SBU distribuídas em Portugal (nomeadamente os Consensos de Patologias Urológicas e o Guia de Uropatologia) e publicações portuguesas distribuídas no Brasil, nos Serviços com Residência (entre outros o Caderno do Internato Complementar de Urologia da Ordem dos Médicos e Livros de Oncologia Urológica). Cinco Serviços de Urologia, em Hospitais e Universidades Brasileiras (de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre) oferecem bolsas e estágios a urologistas portugueses e três Serviços Portugueses (em Lisboa, Coimbra e Porto) oferecem bolsas e estágios a brasileiros e ibero-americanos, no âmbito da SBU e da CAU.

No que respeita às relações da urologia portuguesa com os novos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP), Guiné, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, e também os sítios asiáticos onde Portugal teve forte presença e a língua portuguesa ainda se vai mantendo, Goa, Macau e Timor, é de referir, em 1992, o Simpósio da APU em Macau, com passagem também por Goa. No que respeita a Goa, Joshua Ruah e Reis Santos organizaram um Simpósio em 1994, e Mendes Silva organizou, com Pedro Moura Reis, as 1as Jornadas Luso-Goesas de Urologia, em 2003, que contribuiram para um aprofundamento do relacionamento entre a urologia goesa, sobretudo a lusófona ainda existente, e a portuguesa, sendo de realçar o nome de Edgar Silveira.

Relativamente aos PALOP, depois da sua independência, a urologia portuguesa tem contribuído, desde finais dos anos 80, com protocolos de assistência e fornecendo residências ou estágios (por exemplo Sidónio Monteiro, de Cabo-Verde, Mingi Sebastião, de Angola, e Igor Vaz, de Moçambique). Existem vários urologistas agora portugueses e que trabalham em Portugal, mas que são de origem dos PALOP. Alguns urologistas portugueses (Serra de Matos, José Duarte, Arnaldo Lhamas, Carvalho Melo) deslocaram-se a esses países em missões assistenciais. Todavia, grande parte da urologia dos PALOP foi formada em Cuba, na União Soviética e países satélites, ou na África do Sul, pelo que há que reforçar medidas de aprofundamento do relacionamento com Portugal e Brasil. Assim, a criação da Associação das Ordens dos Médicos da CPLP (Comunidade dos Países de Lingua Portuguesa) em Luanda, em 2006, sob os auspicios dos Bastonários dos países da CPLP, e a formação da Associação Médica de Cooperação Lusófona e Iberoamericana, em Lisboa, em 2002, contribuíram para o aprofundamento desse diálogo e relacionamento. A organização de eventos científicos está também nesse caminho, e, no campo da Urologia, Mendes Silva, enquanto Presidente da APU, presidiu a Jornadas em Cabo-Verde, 2002, Moçambique, 2005, e Angola, 2006, sendo secretariado por Pedro Moura Reis, e tendo como interlocutores em Cabo-Verde Sidónio Monteiro e Olga Borissovna, em Moçambique Igor Vaz, e em Angola Manuel Videira e Nilo Borja. Em Outubro de 2007, no XXXI Congresso Brasileiro de Urologia, realizou-se em Salvador da Bahia, organizado e coordenado por Mendes Silva e Sidney Glina, o 1º Simpósio Lusófono de Urologia, com os tópicos “urologia tropical” e “panorama da urologia em mundos diversos”, com a participação do Brasil (Sidney Glina e José Carlos Almeida), Portugal (Manuel Mendes Silva e Francisco Rolo), Angola (Nilo Borja), Moçambique (Igor Vaz), e Goa (Edgar Silveira). Em 2008, a convite do Bastonário da Ordem dos Médicos de Cabo Verde, Luís Leite, Mendes Silva organizou e coordenou o 1º Curso de Urologia para médicos cabo-verdeanos. Em 2009, a convite do Bastonário da Ordem dos Médicos de Angola, Carlos Pinto de Sousa, Mendes Silva representou a Urologia Portuguesa. Em Junho de 2009, em Turcifal, no Congresso da Associação Portuguesa de Urologia, efectuou-se o 2º Simpósio Lusófono de Urologia, organizado e moderado por Mendes Silva, com o tópico “rumo a uma confederação lusófona de urologia”. Nele participaram Francisco Rolo e Vaz Santos (Portugal), Mário Ronalsa Brandão (Brasil), Sidónio Monteiro (Cabo Verde), Manuel Videira (Angola), e Igor Vaz (Moçambique).

Seguramente, para além da língua portuguesa, esta história comum, embora com altos e baixos, estabeleceu contactos, aprofundou laços, sugeriu ideias, estreitou ligações, e abriu portas para maior colaboração, dando assim origem à ideia da Associação Lusófona de Urologia, que reforçará esses objectivos, pois, todos temos a dar e a receber, e, na sua diversidade, a riqueza de uns pode ser a pobreza de outros e a pobreza de uns será a riqueza de outros. Temos que nos unir e é forçoso que a comunidade lusófona se estabeleça fortemente na comunidade internacional, pois também por aí passará o nosso futuro.

MANUEL MENDES SILVA

Presidente da Associação Lusófona de Urologia (ALU)
Ex-Presidente da Associação Portuguesa de Urologia e do Colégio de Urologia da Ordem dos Médicos de Portugal
Membro Honorário da Sociedade Brasileira de Urologia

 


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